São ares de novas mudanças, especialmente após a reunião dos BRICs esta semana na China onde países considerados em desenvolvimento e fundamentais para a dinâmica econômica internacional colocaram opiniões convergentes em assuntos importantes da política internacional. Reforçaram a necessidade de reduzir o uso do dólar em transações comerciais internacionais, visto que a moeda não tem mais tanta força e privilegiar moedas locais ou formas comuns de trocas de mercadorias e transições financeiras. A intervenção na Líbia foi outro assunto em que ambos os países concordaram que a OTAN deve parar com suas ações. Sendo assim uma não concordância explícita a uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Essa voz representa uma, mais que possível reformulação do sistema internacional. Estes países ganharam força política e econômica internacional, para não falar da força militar da China e da Rússia, nas decisões internacionais. Especialmente após a crise de 2008. Impossível tratar de assuntos importantes sem levar em consideração a visão que estes importantes países têm sobre o determinado assunto. Não adianta mais debater o internacional e as pautas ficarem restritas a alguns países na ONU ou em fóruns como o G8. Assim cada vez mais terão menos apoio em suas decisões, menos efetividade. Vale ressaltar que foram justamente divergências que levaram a Liga das Nações ao fracasso.
Com isso se encerra um período onde países de centro decidiam os rumos econômicos e humanitários do resto do mundo. Não se justificam mais guerras para sustentar poder econômico e político. A cooperação estratégica, regional ou internacional, tem se mostrado muito mais eficiente. Não se justifica mais utilizar discurso humanitário e de direitos humanos para reprimir nações inteiras por interesses particulares, como na Líbia, no Afeganistão, Iraque e outros lugares. Não é mais possível ver com ingenuidade as políticas externas dúbias de países como EUA e UK que empenhavam discursos pró-democráticos e sustentavam (e ainda sustentam) governos não democráticos no oriente médio.
Países como os BRICs, juntos, têm força para questionar, até mesmo impedir decisões arbitrárias de nações desenvolvidas. Especialmente quando os países ditos em desenvolvimento sustentam o sistema financeiro e comercial internacional. Não que o interesse coletivo tenha superado o nacional, de forma alguma, mas para países em desenvolvimento é muito mais interessante que outros também se desenvolvam para que possa haver um maior grau de trocas multilaterais e não manter decisões horizontais. Agora, é fundamental que exista o diálogo, se não o multilateral pode se transformar em travamento.
Inversão do Norte para o Sul? Creio que não. São ares de mudanças, ainda há um longo caminho a percorrer, mas os primeiros passos já foram dados para um multilateralismo mais representativo e sustentável. A política internacional parece estar ficando um pouco mais clara, sem floreios, mais prática, algo do tipo: vamos logo falar do que interessa. Alias, junto com estas mudanças acredito que talvez seja a hora de rever conceitos como “desenvolvidos, subdesenvolvidos” e outros que nasceram juntos com uma estrutura internacional mais dura, mais impositiva.
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